いい気分だわ!

A impermanência dos espaços na Internet

O bloqueio do X no Brasil fez com que os órfãos do hospício virtual procurassem uma casa nova. Bluesky e Threads despontaram como as alternativas preferidas, e uma parcela ainda se aventurou para o Mastodon.

Cada rede tem lá os seus prós e contras e não é sobre isso que eu quero falar. É que essa situação me lembrou de uma coisa que eu já queria escrever sobre, mas fico procrastinando. Queria escrever sobre a impermanência dos espaços na Internet, os cercados virtuais e a perda da customização do seu espaço.

Tá, parecem vários assuntos, mas no fundo, no fundo, eles estão ligados de certa forma.

Antes do conceito de criar conteúdo em redes sociais, a forma de compartilhar coisas sobre nós ou sobre o que nos interessava era criar um site. E os sites eram mágicos e criativos. Ou o óculos da nostalgia faz com que eles pareçam.

Antigamente a gente ENTRAVA na Internet, ficava online, “surfava na web” (que era o termo que se usava para definir a ação de navegar por diversos sites aleatórios através de links) e depois se desconectava. Lembra de SAIR DA INTERNET? Era mágico, não? Hoje estamos conectados 100% do tempo. É legal, mas um tanto ENLOUQUECEDOR também.

Isso é um papo de IDOSA DA INTERNET, e sim, já posso ser considerada um fóssil virtual pelos padrões dos jovens de hoje, que já nasceram nessa tal web 2.0.

No começo das redes ainda existia a possibilidade de customizar o seu perfil, em graus variados, deixando as coisas mais a sua cara. Nesse período de transição, lembramos do MySpace, LiveJournal e até mesmo o finado Twitter permitia uma customização do perfil. É a página pessoal dentro do contexto corporativista, mas ainda era um tanto pessoal.

Corta pra agora, que as pessoas vivem em cercados: meia dúzia de apps que a gente entra pra ver o que está acontecendo. Um feed infinito pra rolar. Uma chuva de informações.

Mesmo os sites pessoais não são eternos. O GeoCities, um dos maiores provedores de espaços para hospedagem de sites foi descontinuado e MUITOS conteúdos perdidos para sempre. Ainda é possível acessar os que foram arquivados, mas a maior parte se perdeu. Eu mesma não consigo mais encontrar meus velhos sites hospedados no GeoCities e outros serviços, como CJB, HPG, etc.

Eu assisti um vídeo um dia desses sobre um site nos primórdios da Internet que vendia pixels para a pessoa anunciar sua webpage nessa tal página. As pessoas pagaram pra ficar “eternizadas” nesse site. Ele ainda existe, porém vai perdendo links a cada dia, o tal do “link rot”. Literalmente, um apodrecimento dos links. Sobre esse assunto, tem muita gente falando da morte da Internet ou até mesmo a teoria conspiratória da Internet Morta. Que são dois assuntos diferentes, mas que tem algumas conexões. Eu acho um assunto fascinante, as mídias perdidas, sites que existiram e não existem mais. Porque muita coisa faz parte da minha memória, de sites que eu acessava frequentemente e hoje não existem mais no mundo virtual, apenas na memória.

Nada é para sempre, isso é óbvio. Mas é possível fazer ao menos um pequeno espaço da Internet ser SEU. Pelo tempo que você pagar para manter online, é claro, mas ainda assim, é seu. Não é comandado por uma empresa big tech com interesses escusos. Não tem algoritmo. É um lugar onde sempre podem te encontrar. É por isso que vem acontecendo uma onda de construções de sites pessoais a moda antiga, tal qual como eram lá nos anos 90. O NeoCities é um bom exemplo disso.

Esse meu espaço, o Blanchâtre, é meu desde 2007. É um site moderno na construção, mas agora com uma estética mais retrô, porque sim, eu senti saudade de ser criativa no desenho da minha página pessoal.

Tirando o óculos da nostalgia: tinha muita bobagem e porcaria no conteúdo antigo da Internet, assim como hoje. Como era uma terra ainda mais desregulamentada do que é atualmente, conteúdos criminosos também eram comuns. Não era uma Internet perfeita. Poderia ser até mais criativa do que a Internet de hoje, mas tinha seus problemas.

O mesmo se pode dizer do Twitter. Sempre foi um lugar para gritar na beira do abismo. E, quando se olha para o abismo, ele olha de volta para você. Ou seja, era um lugar para externalizar o que se pensava e, para o bem e para o mal, virou um lugar influente para uma parcela pequena, porém barulhenta do mundo. Era de todo ruim? Não. Foi criado para o mal? Acho que não. Mas olha onde chegou.

É ainda a busca por conexões humanas que nos leva até as redes sociais. O ser humano é um animal social, afinal. As redes existem porque tem humanos nelas. Elas morrem quando são corroídas por bots e discursos de ódio. Tudo o que vimos o Twitter passar.

É preciso ter a consciência que as grandes redes sociais são um negócio para seus donos e acionistas. A economia da atenção, que busca o seu tempo e dinheiro é o que as move. É importante ocupar espaços, como o que tenho visto do movimento da esquerda em tentar ocupar o Bluesky, mas não esquecer que são quintais murados, com dono e interesses.

Então… o que fazer? Como eu falei, é legal manter uma página sua, para que você não perca conexões. Um ponto fixo no meio de um espaço volátil. Abandonar as redes? É muito difícil. Porém, existem alternativas a praticamente todas, através de comunidades descentralizadas no Fediverso. Entra aí redes como o Mastodon, que não é tão o bicho de sete cabeças que as pessoas acham que é. Bluesky e Threads já acenam para o Fediverso, com opções de pontes entre as redes. É interessante pensar em um serviço que você não ficaria preso a um aplicativo só. Poderia migrar entre as opções, levando seus contatos junto, e continuando a interagir normalmente, tal qual o e-mail funciona. Isso existe, e é o Fediverso, que talvez seja a melhor resposta a essa volatilidade da Internet, em termos de redes sociais.

Eu sou a favor de tirar o poder da narrativa das mãos dos bilionários.

Mas nada é para sempre na Internet.

Tirando talvez o site do filme Space Jam, que é o mesmo desde 1996.

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